9.11.04

Prólogo (Parte 2)

Cores

A primeira impressão é marcante, como uma obra de arte. As cores fortes e bem definidas podem chocar, mas também nos encher de paixão e alegria. Tudo é muito claro e certo. Isso facilita nossa compreensão e adaptação.
Mas como toda grande obra de arte, a cada novo olhar, novas nuances se manifestam. A mudança é constante. Assim que é. Não devemos nos prender ao primeiro exame, pois as cores fortes podem nos enganar. Existe algo mais, por baixo das pinceladas superiores.
Talvez em alguns momentos da vida seja tudo em preto e branco, mas as variações de cinza fazem a diferença. Assim é esse mundo. Tudo está em seu devido lugar, mas em movimento. Não perca tempo tentando classificar, deixe que tudo aconteça como deve acontecer.
Essa talvez seja a resposta. Por maior que seja a sombra que se levanta, ela também pode mudar. Sim, existe mudança, mesmo nos corações sombrios. Mas talvez você precise de certezas. Pois então saiba que são as transformações que sustentam a esperança, nossa força, a garantia de que haverão dias melhores.

3.11.04

Prólogo (Parte 1)

Inglaterra, alguns anos após aquela guerra que veio para acabar com todas as outras. Começava minha tese de doutorado em Cambridge pela Faculdade de História. Minha área de pesquisa era estudar o desenvolvimento do cotidiano das pessoas comuns. Mas alguns dados despertaram meu interesse, pois trouxeram memórias de meu passado e de minha família. Então, comecei a estudar casos de desaparecimento de pessoas, o que os causava, fatores que os tornavam mais ou menos freqüentes ao longo dos anos. Segundo as metodologias científicas tradicionais.
Não descobri nenhum grande segredo de Estado, apenas encontrei estranhos casos de desaparecimento, quando permitiu surgir às primeiras idéias para uma tese, qualquer que ela fosse. Quanto mais pesquisa sobre esses acontecimentos bizarros, maior era minha certeza de aquelas pessoas simplesmente haviam deixado de existir. Percebi que havia um padrão nesses casos diferentes de todos os outros, mas ao mesmo tempo notei que eles estavam diminuindo, o que tornava tudo mais difícil de se compreender.
Era tudo ridículo, eu também era incrédulo. Relato de exércitos sumindo sem deixar vestígios em plena campanha era algo impossível de se acreditar. Apenas quando encontrei provas de uma pessoa que foi para lugar algum e voltou do nada, que mudei minha visão. Ele retornou depois de anos sem qualquer mudança aparente, mas também sem entender o que havia acontecido. Não, não falei com ele. Ele morreu alguns minutos depois de seu retorno, quando apareceu no meio de uma rua e foi atropelado por um automóvel, algo que não existia quando ele sumiu.
Poderia listar vários outros casos de que tomei conhecimento, além de situações muito estranhas relacionadas. Tudo indicava existirem forças maiores movendo o universo, que nenhuma lei da física explicava, muito menos as leis da história. O que não me ajudava, já que ninguém acreditava nesses relatos. Fui ironizado até por meu orientador, que recomendou que eu fosse trabalhar com o departamento de parapsicologia. Ele não queria enxergar os fatos, dizia que minha percepção científica estava prejudicada. Eu mesmo desconfiei de que meu ceticismo neutro havia perecido, mas mesmo o olhar mais minucioso não desmentia os fatos.
Enquanto ainda ponderava que destino deveria dar aos meus estudos, continuar ou abandonar, as mudanças ocorreram. Em mais uma daquelas noites frias da Inglaterra, ao retornar da Biblioteca, minha passagem teve início. De maneira dolorosa eu vim a entender o que acontecia aos meus objetos de pesquisa. Mas eu seria o único, pois com ninguém poderia compartilhar. Pelo menos foi o que eu pensei no início...

7.10.04

Lendas...

O que você faria se derrepente acordasse em um mundo totalmente diferente? Digamos assim, você vai dormir se sentindo estranho, deita na sua cama quente, no seu quarto reconfortante e acorda no centro de uma vila com casas de madeira e palha, quase nenhuma casa de alvenaria, deitado na relva perto de uma fonte, cercado por pessoas que você nunca viu em sua vida, usando roupas estranhas de tecidos rudes. No mínimo você pensaria estar sonhando. Infelizmente comigo, não foi assim o sonho. Quando tudo aconteceu, eu sequer estava dormindo. Não pude desejar boa noite para ninguém de quem eu gostava, nem me despedir do meu quarto. O mundo começou a rodar e eu senti uma dor insuportável. Desmaiei. Quando acordei estava nesse mundo estranho, nas terras do norte de Teilzu, em uma situação parecida com a que descrevi logo acima. O céu da noite estava escuro, as tochas acesas tornavam a situação ainda mais assustadora. Mas não era só eu quem estava com medo, meus observadores também estavam assustados. Ficavam repetindo uma palavra que eu não entendia no início. Eles não falavam minha língua, ninguém fala. Quando comecei a entender as palavras, de forma natural, mas inexplicável, entendi o que queriam dizer... Eles falavam sobre os eclipses no céu e sobre alguma lenda do fim do mundo, ou recomeço do mesmo.
Não falta muito para essa lenda se tornar real e aparentemente eu sou uma peça nela. Aquele que encontrará o salvador. Em breve ele ou ela chegará, um dos últimos a realizar a passagem. Mas esse em breve me tomou um longo tempo. Quase enlouqueci e definitivamente perdi as esperanças. Toda a fé de uma nação repousa nessa lenda, mas e se ela se concretizar da maneira errada. Eu vi o mal que se aproxima, apenas uma pessoa não poderá salvar o mundo. Algo mais é necessário. Acho que meu papel não é apenas encontrar o visitante, mas preparar a todos para o desafio. Devo continuar contando minhas histórias na esperança de que alguém resolva se levantar e viver sua própria aventura e assim tornar a realidade em lenda.

4.10.04

O Ciclo e seu Percurso

Nem todos os terrores são monstros. Talvez não sobre a perspectiva moderna que alguns de nós temos. Mas a maior parte é sempre interpretado como horrores além da imaginação. Horrores que destróiem nossos corpos e se alimentam de nossas almas, apenas a fé pode nos salver.
Certo, essas são as palavras dos mais velhos, daqueles que não entendem direito os mecanismos da vida e da morte. Atualmente as pessoas compreendem melhor o que se passa com os corpos dos seres vivos, magos e estudiosos pesquisaram o bastante para entender alguns dos mecanismos da vida. Apesar dos grandes acontecimentos que costumam ocorrer aqui, a vida também possui sua rotina, ela mantém seu fluxo normal na maioria das vezes.
As pessoas nascem, crescem, envelhecem e morrem. Talvez um pouco mais rápido do que isso, para os que tem sorte pode ser que demore, depende sempre do ponto de vista. Mas esse é o ciclo normal da vida. E cada vida em particular é o palco de grandes acontecimentos, se formos pensar bem. Muitas coisas podem acontecer.
Pessoas desenvolvem sentimentos, têm idéias, adoecem, promovem curas, geram a vida, movimentam-se. A explicação mais plausível para tudo isso ao mesmo tempo, segundo a maioria da população, são as forças divinas quando se trata de coisas boas e demônios para tudo que é ruim. E também no dia-a-dia das pessoas vemos o eterno duelo entre bem e mal.
Mas talvez esse não seja o maior desafio. Esclarecer que doenças não são necessariamente demoníacas é cada vez mais importante, porque nos dias paranóicos em que vivemos, qualquer desiquilíbrio social é fatal, mais do que a própria doença que o causou. Expurgar doentes tem sido o principal "método de cura", pois já são poucos os clérigos com verdadeiros poderes e as pessoas começaram a perder a esperança.
Antigamente, a morte não era tão temida, ela era esperada como um novo passo na jornada. Os clérigos eram guias, eles facilitavam tanto a estadia nesse mundo quanto a passagem para o próximo. Hoje cada um está mais preocupado com sua própria vida, ignorando a do próximo. Clérigos passaram a ser considerados posses, são dominados pelas comunidades e o verdadeiro poder não é mais demonstrado, o poder de cura espiritual.
Isso permitiu, pelo menos, desenvolvimento de técnicas que não se utilizam de forças divinas. A medicina começa a surgir, mas ela é mal vista pela maioria, forças demoníacas estariam por trás dela. O ciclo da vida continua, mas ele vêm sendo transformado, encurtado talvez, por uma nova doença, uma doença para o qual todos estão cegos. Ela surge do medo e da confusão, ela impede não apenas a cura dos indivíduos, mas a sobrevivência da sociedade. É a loucura das massas um sinal para a ruína que se aproxima.

21.9.04

Petrik, o caçador de sombras (Parte 5/5)

A ameaça no coração da vila fora destruída. Ao caminhar para a últma casa de seus pais, nenhum dos aldeões tinha coragem de levatar seus olhos a Petrik. Ele pegou os percentes da família e acomodou sua irmã na carroça, junto a eles. Partiu sem olhar para trás, para nunca mais voltar. Seguem os últimos trechos de seu diário:

"Vigésimo-primeiro dia,
Estamos a dois dias de viagem da vila. Os pesadelos ainda me perseguem, nuca mais serei o mesmo. Minha irmã também não. Com tristeza escrevo essas linhas e não voltaria a escrever aqui. Também não voltarei aos meus estudos de Magia, tenho uma promessa a cumprir. Pensei que destruindo aquele monstro ou fugindo da vila minha irmã melhoraria. Isso não aconteceu. Notei as mudanças que nela se faziam. Ela parecia já estar morta e a morte andava a seu lado. Mas ela voltou a acordar, apenas para dizer suas últimas palavras.
Ela disse que não queria se tornar um monstro, que queria morrer em paz. Eu deveria livrá-la daquela maldição. Deveria perfurar seu coração para deixar o mal contagiante que o dominava partir e então deveria purificá-la. Mas, além disso, ela me fez prometer que eu não descansaria enquanto não livrasse o mundo do mal que agora a possuía ou qualquer outra espécie semelhante. Sem hesitar jurei por nossa família em todos tempos. Então a irmã que eu conheci expirou.
O ar a nossa volta começou a mudar. O espírito maligno em minha irmã que a corrompeu e corrompia tudo a nossa volta. Com lagrimas nos olhos peguei aquele mesmo cabo de vassoura que havia se partido na fracassada tentativa de salvar minha irmã. Ele agora cumpriria sua missão como uma estaca que livraria do mal o coração da pobre coitada.
Escrevo essas passagens em frente ao túmulo de minha irmã, na bela relva perto da estrada, onde realizei os rituais que purificariam seu corpo e sua alma. Ela por fim pode descansar, como nossos descansam. Mas eu não descansarei em virtude de meu juramento, até a hora de minha morte, e o mesmo se dará aos meus descendentes.”

Os demais documentos falam das descobertas de Petrik e dos trabalhos e perigos enfrentados pelos primeiros caçadores. Falam de como foi criada a Tradição dos Caçadores Jurados, entre outros relatos.
Meu amigo é um caçador. Ele descende de Petrik e diz que a promessa ainda não foi cumprida, que na verdade sua família sempre esteve em desvantagem, havendo períodos sem caçadas em andamento. Mas pelo menos sabem que existem aqueles dispostos a lutar, mesmo que sejam batalhas perdidas.


19.9.04

A passagem dos dias...

Como em todos os lugares, aqui o tempo também se move. Mas não posso afirmar que seja do mesmo jeito do que era onde nasci. Já falei uma vez, nem tudo o que fui obrigado a estudar para chegar a Universidade é verdadeiro desse lado, mas isso também não significa que seja inútil. De qualquer modo, mesmo não sendo tão determinado o padrão, sei que ele existe.
O que quero dizer é que o tempo não segue de modo linear. Ele se desenvolve, hora após hora, dia após dia, mas não é necessariamente sempre assim. O tempo não é uma linha, não sei definir o que ele é. Talvez um plano, ou uma teia, mas sei que ele não é reto, está ondulado, faz curvas e, o mais interessante, toca-se em vários pontos e também compartilha momentos com a linha temporal do outro lado.
Apesar disso, é possível contar o tempo, horas, dias, semanas... Porque ele tem uma seqüência e ele flui sem parar. Em que anos nós estamos? Eu não tenho certeza. Eu estou aqui há quase 60 anos. Acho que estamos perto de 1980 do mundo "real". Aqui eles dizem estar em 1931. Mas quando eles começaram a contar? Bem, existem vários padrões de contagem em outras regiões, mas aqui no Teilzu o motivo foi a passagem do último grande princípe dourado. Um campeão da Justiça e da Luz que continuou sua jornada no além. Ele era adorado e em sua homenagem os calendários foram zerados até o momento de seu retorno.
Essa é outra parte da história. A lenda que conta como os povos irmãos cairão e sua única esperança reside em um herói vindo do outro lado, herdeiro daquele que foi o maior dos campeões. Se a lenda é verdadeira, não tenho certeza, mas que os povos irmãos estão prestes a cair, isso está mais claro do que nunca, pelo menos para mim.

15.9.04

Petrik, o caçador de sombras (Parte 4/5)

Nesse ponto Petrik evita descrições profundas. Apenas podemos imaginar o horror que sentiu o jovem ao encontrar os corpos sem vida de seus pais largados no chão da casa. Apenas um gemido no andar de cima fez o torpor passar. Ele explica que pegou a primeira coisa parecida com uma arma e correu para o quarto de sua irmã, ele imaginava o que acontecia, mas não sabia pelo que esperar.
“Subi as escadas o mais rápido que pude. Quando cheguei notei aquele tom verde sobre minha irmã, uma espécie de boca encostava-se a seus lábios, enquanto ela permanecia deitada, inerte. Instintivamente joguei aquilo que tinha em minhas mãos, como uma lança, em direção ao ser que havia matado meus pais. A velha vassoura atravessou a fumaça e se partiu na parede. Foi o bastante para chamar a atenção do fantasma e desconcertá-lo... a única coisa que veio a minha mente foi um encantamento de luz, isso o fez fugir, mas não o destruiu...”
Aparentemente a irmã não morreu nessa hora, mas também não voltou a acordar enquanto eles estavam na vila. O caçador fez o que pode para dar paz às almas de seus pais e preparou-se para partir. Mas ele sabia que algo estava diferente em sua irmã e que não haveria esperanças para ela se não se livrasse do espírito maligno que a tocou. Assim, ele se preparou para a vingança.
Buscou em seus livros uma explicação para o que seria aquilo. Um espírito amaldiçoado que não aceita morrer, alimenta seu corpo putrefato sugando a vida dos seres a sua volta, desenvolvendo uma ligação com os mesmos, destruindo suas mentes e auto-determinação. Não havia explicações de como destruir tais seres, mas sua esperança repousava na idéia de que seu corpo decaído era seu local de descanso, sem ele não teria para onde retornar todas as manhãs.
Quando o sol nasceu, ele sabia o que fazer. Tudo indicava que o algoz da cidade encontrava-se no cemitério. Para lá ele seguiu, munido de seu livro de magia e de uma pá. A população olhava aterrorizada para o pobre infeliz, mas não tinha coragem de impedi-lo ou ajudá-lo. Ao passar pelos portões da capela que levavam ao cemitério, Petrik sentiu como se o ar fosse um muro de tão asqueroso e pesado. Segurando o fôlego ele avançou. Ele ainda não conhecia o cemitério por dentro, mas viu que todos os túmulos estavam profanados, ninguém tinha coragem de deixar seus mortos lá.
Apenas um mausoléu negro mantinha-se imponente e intacto. Agora seria Petrik quem eliminaria a maior profanação. Arrombando as portas do mausoléu, com muita dificuldade. Antes de adentrar, invocou uma magia de proteção. O túmulo estava lá. Com a mesma pá ele quebrou a laje. Não sabia dizer de onde vinham suas forças, mas não desanimou ao encontrar terra para ser cavada.
“Quem se daria o trabalho de enterrar de maneira tão sacra tal monstro?” era o que sua mente pensava naqueles momentos terríveis. Quando chegou ao fundo, restos mortais amaldiçoados exalavam seu cheiro de morte. Ele não agüentava olhar aquele monstro. Saiu do túmulo e fez o que pretendia fazer. Esconjurou com fogo místico os restos mortais daquele ser, garantindo que nunca mais ele tiraria a vida de outra pessoa.

14.9.04

Petrik, o caçador de sombras (Parte 3/5)

Apenas algumas páginas ainda restam daquele triste diário. Elas relatam os últimos dias que o jovem aprendiz de mago passou naquela sombria cidade. A passagem mais interessante trata da promessa feita a sua irmã. Mas chegaremos nela em breve, antes é preciso abordar o que aconteceu nos dias que se seguiram. Aparentemente Petrik já desconfiava, antes mesmo de chegar na cidade, que algo terrível estava por acontecer. Suas suspeitas fortaleceram-se com o passar dos dias, mas suas forças seguiram o caminho inverso.

“Sinto no ar uma presença que o torna denso, dificultando não apenas a respiração, mas a própria concentração... minha mente está cada vez mais perturbada, os pesadelos que me atacam são terríveis, mas o pior é ter medo de passar a noite acordado...”
Essas idéias o levaram a acreditar que algo rondava a noite na cidade. Ele entendeu que algum ser maligno levantava-se a noite para se alimentar da força vital dos moradores da cidade, ele seria o verdadeiro senhor da cidade. Assim, Petrik decidiu por fazer uma vigília noturna.
“O que vi foi terrível, mal consigo descrever, não sei como sobrevivi àquela imagem. Primeiro vi apenas algo que parecia ser uma neblina, mas as cores que dela emanavam eram estranhas, um tom de verde, misturado com negro e vermelho sangue... enquanto o terror me dominava, tentei entender o que era aquilo e notei que uma forma podia ser identificada... havia uma forma humana entre a neblina, ou seria um espírito humano em forma de fumaça... só quando era tarde demais percebi que aquilo se movimentava, seguia em direção a casa de meus pais... como pude esquecer a porta aberta??? Mas seria aquela porta um real empecilho?”
O espírito seguiu para a casa onde Petrik estava habitando e lá dentro encontrou os pais do futuro caçador. Eles estavam acordados, temendo pelo filho na rua. Quando o monstro entrou, foram tomados pelo desespero e loucura. Isso foi por pouco tempo, pois aqueles dois corpos frágeis nada significavam para o imortal, assim ele se livrou rapidamente dos mesmos. Seu desejo era pela jovem vida que pulsava no andar de cima...



11.9.04

Os senhores das montanhas

As montanhas a oeste não estão abandonadas. Existe um povo nobre e orgulhoso, livre e feliz, que lá habita. Eles controlam vastas áreas sobre as montanhas, eles chamam as montanhas de lar. Eles não são os únicos que moram lá, mas eles são os senhores e por seus dons, causam inveja em muitos de nós.
Em tempos longínquos, houve um povo que vivia nas planícies, mas vivia com medo lá, sob domínio de monstros. Eles queriam ser livres, então resolveram fugir. Achavam que se pudessem alcançar os céus, como os pássaros, seriam livres. Assim, seguiram eles para oeste, escalando as cordilheiras em direção a mais alta das montanhas. A jornada não foi fácil, alguns ficaram pelo caminho, poucos tiveram coragem de ir tão longe, estavam presos aos seus próprios medos. Apenas um conseguiu chegar ao seu objetivo e este foi o primeiro de um novo povo.
Takyam, o alado, encontrou a Liberdade. Encarnada nos Reis dos Pássaros, o maior dos Condores. Ele pediu pela sua benção, pediu para que seu povo fosse livre e um pacto foi feito, além das nuvens. A Grande Ave Negra falou a Takyam que seu povo seria livre e compartilhariam do dom dos seres alados. Mas eles ainda não estavam prontos e deveriam conquistar o merecimento, como o jovem havia feito. Nem todos podem ser livres, explicou o Condor, se estão presos dentro de suas mentes. Não é possível ensinar como ser livre, apenas é preciso ser.
“Volte agora, meu jovem pássaro. Conte a seu povo e deixa que eles aprendam sozinhos”, foram as palavras da Liberdade que só voltaria a ser ouvida pelos poucos que se livrassem das correntes. A partir daquele momento Takyam não era mais apenas um homem, seu corpo estava transformado e duas asas negras e fortes surgiram de suas costas. Ele voou até aqueles de seu povo que estavam dispostos a abraçar o mesmo grande destino.
Surgiu, assim, aquele povo por nós conhecidos como homens-águia. Eles se autodenominam Takam. Nem todos receberam a mesma benção que Takyam. Seus corpos foram transformado com o passar dos séculos por viverem nas alturas, mas os nascidos com asas são poucos e não foram como seu antepassado. Os que nascem com asas, as têm como braços transformados, seus corpos leves e delgados permitem o vôo, mas seus espíritos são tão livres que pouco se ligam ao seu povo, fazem parte dele apenas por facilidade.
Os que nascem sem asas, também têm corpos leves, mas não podem voar. Possuem outros dons e responsabilidades, seus os provedores e protetores do povo, porque parte do seu espírito ainda está presa a terra. Mas também eles podem se libertar e tornarem-se como Takyam foi. Aqueles que atingem tal estado, com uma nova visão de mundo, um novo entender da realidade, tornam-se aptos a dar continuidade às tradições de sua raça e são os verdadeiros líderes e herdeiro do primeiro entre eles, o Alado.

7.9.04

Petrik, o caçador de sombras (Parte 2/5)

“Sexto dia,
Tive sonhos perturbadores. Minha mente parece estar anuviada. Não consegui escrever ontem. Foi pouco o tempo. O reencontro com meus pais foi frio, eles parecem fracos e pálidos, sem energia. Minha irmã está acamada, não há médico na vila e eu não sei identificar o problema... a vida parece se esvair do corpo dela.
Hoje a tarde vou investigar este lugar... Não consegui convencer meus pais a partirem imediatamente, algo parece prendê-los aqui. Preciso entender tudo melhor”
...
“Décimo dia,
Desde que cheguei aqui não consigo dormir direito. Meus estudos estão sendo prejudicados. Acredito que forças malignas habitem este vilarejo. Tenho me concentrado em magias de proteção contra o mal e rezado aos deuses por ajuda... não sei o que me aguarda...”
...
“Décimo primeiro dia,
Agora entendo porque todas as manhãs os homens saem com tanta disposição para trabalhar. As lavoras ficam distante do centro, lá há vida e ar puro. Eles conseguem renovar suas forças e é mais fácil conversar com eles.
Mas as lavouras só estão longe porque as terras antes do rio são insalubres... não sei o motivo disso, mas agora percebo que não existe vida vegetal na vila, a não ser por algumas ervas daninhas que são raras quanto mais perto do centro. Também são poucos os animais que se aventuram por aqui... apenas humanos.”
...
“Décimo quarto dia,
O centro da vila é um cemitério. Fica atrás de uma capela. Existem uma ou duas casas maiores, todas antigas de pedra, creio que a maior e mais perto da capela seja a casa do senhor, mas ainda não o conheci. As demais casas são de madeira, espalhadas pela vila. Não há comércio, existe uma barraca onde as pessoas levam seus produtos para compartilharem com os demais moradores. A vida é muito simples. Mas ao mesmo tempo, assustadora. Poucos são os que entram na casa do senhor, menos ainda os que vão a capela. Não há um clérigo em serviço. Nunca vi os donos da vila, apenas os servos. Alguns que moram aqui há mais tempo parecem comandar os serviços, mas suas atitudes são tão estranhas, como se não tivessem mente própria...
...
“Décimo sétimo dia,
Não havia reparado antes, isso é estranho. Não existe vida a noite. Ninguém ousa sair de casa a noite. Demorei em notar isso porque eu mesmo não tinha vontade de sair a noite, todos dormem cedo. Mas quando comentei com meus pais sobre barulhos na rua, eles desconversaram. Passei uma noite observando, questionei as pessoas, ninguém gostou do assunto. Estou certo de que algo lá fora caminha pela noite e ninguém tem coragem de abrir sua porta depois que o sol se põe. Preciso descobrir o que é, talvez assim consiga convencer meus pais a partirem. Minha irmã está piorando, não entendo porque ela está assim..."

As passagens começam a ficar dispersas. Parece que Petrik não tem mais força ou vontade de descrever tudo o que vê. São poucas as folhas restantes no diário, ele explica porque parou de escrever. Talvez precise buscar lembranças que o caçador conta daqueles dias sombrios em outros textos a fim de esclarecer qual foi o horror que ele precisou enfrentar e jurou continuar enfrentando...

6.9.04

Duelos nos céus

Por que sempre achamos que os deuses moram no céu? Talvez seja porque é melhor pensar que eles ficam apenas lá em cima nos vigiando e cuidando de nós e por que seria bem difícil conviver lado a lado com esses seres. Ou talvez seja por que os consideramos uns arrogantes que não querem se misturar com suas criações. Não é bem assim. Na verdade eles já moraram entre nós, ou nós entre eles. Mas há alguns séculos eles se afastaram, muitos sumiram sem deixar vestígios. Tudo mudou por causa da guerra que pôs fim a uma era. Eles não sumiram de repente, admito. Essa situação já vinha se anunciando antes do fim. Com o aumento da população de mortais, os deuses passaram a se distanciar de seus protegidos, isolando-se em outros planos de existência. Mas eles ainda caminhavam ao nosso lado. Hoje não temos notícias deles.
Mas não quero dizer que isso seja ruim. Realmente é difícil saber o que é pior. O imenso poder que possuíam quase não era contido em seus corpos materiais. Toda a frágil existência era ameaçada quando eles estavam por perto. No inicio os perigos para nós eram imensos e eles sabiam disso, mas não se importavam. Quando perceberam que isso prejudicava seus objetivos, decidiram se afastar e nos controlar a distância.
Fomos usados em suas batalhas, como os peões de um tabuleiro de xadrez. Mas aos poucos também aprendemos a usá-los em nossas batalhas, transformando nas deles. Sim, quando eles passaram a atuar a distância houve grande progresso. O problema é que as disputas começaram a ficar incontroláveis e mais uma vez eles desceram entre nós e precisaram se envolver.
Dias memoráveis aqueles. Descobrimos que os deuses também podem morrer. E os vestígios das batalhas perduraram nos céus por muitos anos e a terra continua marcada. E os deuses se afastaram de nós, lamentavam suas perdas. Alguns começam a pensar que eles nunca existiram, mas em muitos a memória dos duelos nos céus continua presente. Em breve não serão mais apenas lembranças, viveremos tudo novamente...

2.9.04

As terras conhecidas (Parte 2/2)

A parte de Teilzu a leste do grande mar central é uma região difícil de se viver. Nela encontra-se um grande deserto, nunca viajei além dele, mas houve histórias de uma grande civilização do outro lado. O deserto quente permite apenas populações escassas e a área de clima agradável possui grandes florestas e montanhas, além de pradarias. Mas porque não se constrói cidades nessas terras? Pois essas terras são ocupadas por grandes animais, ferozes e selvagens. Existem boatos de cidadelas perdidas dentro da grande floresta central, mas nunca pude comprovar. Os povos das terras orientais preferem viver perto do mar, por isso tornaram-se grandes marinheiros.
Mas apesar daquela ser uma terra bonita, não existe beleza que se compare com a região do Teilzu oeste. Seu litoral de mar azul com corais protegendo a praia, os mais variados tipos de clima, florestas adequadas aos climas, montanhas com neve, morros e colinas dando um toque pitoresco ao relevo, além de planaltos com uma mística particular. Tudo entrecortado por rios e planícies. Um local perfeito para se viver em harmonia com a natureza e por um longo tempo foi assim que as primeiras raças viveram, de fato os Basti ainda vivem assim. Claro que também existem cidades e elas são bonitas, apesar de algumas serem desagradáveis.
As mais altas montanhas ficam no oeste, elas seguem o litoral em direção ao norte, criando a barreira que separa nos separa do continente gelado ao norte. Existem minas e cidades nas montanhas e em suas cavernas, povos estranhos habitam por lá. As terras ao sul são mais frias, com florestas temperadas, neve no inverno, etc. Ela que se liga ao Teilzu leste. É habitada principalmente por humanos. Nas regiões mais gélidas do sul poucas tribos moram, mas todas vivem em paz. A parte central que sobe para o norte.
A região litorânea do mar central possui várias cidades e vilas de pescadores. Algumas cidades são grandes e realizam comércio marítimo. Os portos hoje em dia estão um pouco vazios, as grandes navegações são evitadas. As povoações que seguem para o centro acompanham os rios. Existem várias cidades importantes terra adentro, a maioria é ribeirinha. Enquanto o oceano a oeste é vizinho a uma grande cadeia de montanhas, no leste em parte existem alguns morros, mas as terras não são muito elevadas. Mais ao nordeste, existe uma região com características de deserto, ela não é habitada por humanos, mas possui seu próprio povo adaptado ao clima.
Os humanos preferem viver nas cidades, perto de rios ou do mar. São organizados, mas estão dispersos e as estradas ficaram perigosas. Existem povos que gostam de viver nas montanhas a oeste, muitas raças preferem se isolar dos humanos. Os Basti vivem nas florestas antes das montanhas, essas florestas são vastas e protegem seu estilo de vida. Eles mantêm raros contatos com os humanos, mas apenas para garantir que não serão incomodados. E são poucos os com coragem de invadir tais florestas, pois as histórias que contam sobre elas não são tão agradáveis.

Mais perto do que poderíamos acreditar...

Ninguém quer se levantar. Estão todos bem acomodados. Como pode ser isso??? Dormindo em camas de palha? Sentando em bancos velhos na taverna?? Ouvindo as mesmas velhas piadas e histórias, bebendo a mesma cerveja aguada para esquecer das dores do dia? Será que ninguém escuta os avisos soturnos dos corvos? Eles falam ao vazio.
Todos se sentem seguros. Faz séculos que não existe uma batalha memorável, desde que... eles não gostam de serem lembrados disso. Mas as rixas aumentaram. Nem sequer o reino que dizem existir tem um rei de verdade, são vários os reis morando em várias barrigas. As cidades só falam entre si na linguagem do ouro. Uma quer lucrar sobre a outra. Talvez não haja um mal verdadeiro nisso, mas assim nasce a desconfiança.
Por isso ninguém escuta as histórias sobre guerras, bárbaros, monstros e invasores que se aproximam. Muito menos dão valor às notícias de conflitos entre vilas e cidades que já foram amigas. "Tudo não passa de boatos dos estrangeiros para estragar nossos negócios". Grandes negócios, manter a barriga cheia. Mas grande parte da população só consegue enchê-las com vento.
Os líderes estão acomodados, o povo também. Existem ainda alguns com sabedoria, que percebem os sinais, mas preferem ignorá-los. Eu viajei bastante e vi que não são apenas sinais. Não podemos esperar sentados. Sou taxado de louco, mas loucura maior é morrer sem lutar. Não irei permitir isso.
Talvez fosse isso que as lendas quisessem dizer. Mas eu estou velho para lutar, mas não velho o bastante para preparar a batalha. Sei que chegará o dia em que o envolvimento de todos será inevitável, mas até lá buscarei por aqueles que não querem continuar cegos. Existem pessoas que cansaram da apatia que assola o mundo, o conforto talvez também seja um mal. Com essas pessoas nos levantaremos contra o mal que bate à nossa porta.

1.9.04

Petrik, o caçador de sombras (Parte 1/5)

Essa história chegou a mim por um amigo. Eu perguntei porque ele fazia o que fazia. Não que sua missão fosse maligna, pelo contrário, acredito em sua causa, mas queria entender suas tradições. Ele me mostrou alguns documentos, diários, páginas soltas. Tais textos contam a origem de uma organização praticamente familiar, que surgiu na Era do Despertar e muitos pensam estar extinta. Tentarei transcrever o que li, os trechos mais importantes, pelo menos. Minha intenção, reforçar o que costumo falar: há esperança.
"Pai e mãe,
Meus estudos estão avançando, mas sinto falta do lar. Meu mestre algumas vezes exige demais de mim, mas acho que realmente posso ter um dom para Magia. Talvez algum dia possa voltar para casa e ajudar vocês com o que aprendi...
...
Petrik" - Vestígios de uma carta...
"Amados pais,
Recebi a notícia de que nosso senhor faleceu e que vocês partiram para outra vila na esperança de encontrar trabalho. Meus irmãos estão indo para ajudar... certos trechos de vossa carta não está claro... Vou tentar visitá-lo o mais breve possível, conseguirei permissão de meu Mentor...
Seu filho Petrik" - Mais vestígios, de outra carta...
"Primeiro Dia
Consegui permissão para viajar, mas talvez o retorno seja impossível. Continuarei meus estudos por conta própria, manterei esse diário para controlar minha evolução. Pensamentos e emoções me corroem. Não sei o que espera por mim. Os boatos que ouvi da vila para onde se mudou minha família, não me agradam. Demorei demais para partir. Devia ter pedido a meu Mestre que aceitasse minha família como seus criados. Os sinais agourentos das estrelas não sugerem que a viagem será fácil"
...
"Quarto dia
A medida que me aproximo, as histórias que ouço pioram. Boatos sobre mortes terríveis, lendas sobre monstros. As noites são mais escuras e os dias frios e nublados parecem condizer com meu estado de espírito. Poucas são as famílias que ainda vivem naquela vila, aparentemente são loucas, mas tem dinheiro para sustentar a loucura e precisam de serventes. Meus irmãos não deveriam ter permitido que meus pais partissem. Temo pela saúde deles. Será que são verdadeiras essas histórias horríveis?? Espíritos malignos tomando os corpos das pessoas, alimentando-se de sua energia vital... Creio que adeptos de magia negra conseguiriam isso, mas essa região tão simples não parece ser habitada por esse tipo de magos... Pelo menos meus estudos noturnos mantém minha mente preparada... Amanhã descobrirei o que realmente está acontecendo."

31.8.04

As terras conhecidas (Parte 1/2)

Minha especialidade é história, mas para conhecer sobre a história daqui eu precisei ir muito longe e conversar com muita gente, pois não existem livros sobre o assunto, como no lugar onde nasci. Então, acabei por conhecer a maior parte das terras habitadas, as terras onde as principais raças construíram suas civilizações e também tomei conhecimento de outras terras, mais distantes, com seus próprios povos e culturas, que pouco contato mantém conosco. Eu viajei apenas até onde era seguro, admito. Não desenhei mapas, mas sei onde encontrá-los. Não fui muito mais longe do que as próprias histórias que conto poderiam contar.
Mas conheci grande parte das terras onde se passam essas histórias e posso descrevê-las um pouco, se isso ajudar a entender melhor os acontecimentos descritos. Não encontro muitas relações entre as terras por onde andei com a terra onde nasci. Apesar de reconhecer que é o mesmo mundo, vendo as estrelas em posições parecidas, assim como a lua no céu, o sol, os planetas, sei que há algo de diferente. Tenho impressão de viver no que seria o hemisfério sul, considerando minhas fracas analises celestes.
O norte do planeta não parece ser muito habitado, existem poucas terras acima das águas, além de muito gelo. Mas existem povos morando lá, povos guerreiros e selvagens no seu modo de vida, mas que possuem uma civilização complexa, diferente da maioria dos povos que conheci. Existem dois caminhos para chegar a essa região, por mar ou atravessando a estreita facha de montanhas que separa os dois blocos de terra a oeste.
Pelo que entendi desse mundo, existem dois grandes blocos de terra conhecidos, separados por um mar interno, flutuando em um grande oceano. O bloco ao norte é o que já descrevi, pouco habitado e coberto de gelo. A região mais populosa é a que fica a oeste, onde vivem os povos guerreiros que causaram o fim da Era Dourada. Existem terras a leste, mas não sei descrevê-las, pois nunca as vi e poucas lendas chegaram a mim. Todas essas terras são chamadas de Äquivnoor.
As terras do sul, onde vivo agora, são muito vastas e habitadas por civilizações que já foram gloriosas. Seu terreno é diverso, montanhas, florestas, desertos e cidades. Além disso, não se trata apenas de um continente, mas sim dois unidos pelo seu extremo sul. Minhas andanças permitiram-me conhecer muito bem o lado oeste do continente, mas a parte leste, apesar de saber que é habitada, pouco a visitei. Desde o fim da última era, poucos contatos são mantidos a não ser pelo comércio marítimo. O sul é conhecido por Teilzu.

30.8.04

Teia da Magia

As linhas da realidade que formam a frágil teia da existência estão sujeitas a influências externas. Também somos constituídos por essas linhas e como extensão delas somos capazes de alterá-las. Compreender esse fato permitiu o surgimento da Magia. Mas apesar de ser uma idéia simples, sua realização pode ser custosa, pois as ondulações da teia também afetam aquele que a faz ondular.
Os primeiros magos descobriram isso da pior maneira, quando os efeitos colaterais manifestaram-se de forma terrível. Para controlar esses efeitos, começou a busca pelo entendimento das forças místicas, o grande desafio tornou-se descobrir como tornar mais maleável a realidade ao mesmo tempo em que se enrijecia a própria existência do mago, permitindo que esse resistisse com maior facilidade aos reflexos de sua magia.
Fórmulas místicas foram compostas, magias escritas e gravadas na memória, caminhos e técnicas que facilitavam a ativação de efeitos pré-definidos, manifestações de possibilidades que se adaptavam a existência. Escolas surgiram, livros foram editados e regras e normas adotadas. Aos poucos o verdadeiro poder se perdeu numa nova rede, a rede burocrática. Mas esquecer a origem da magia não diminuía o poder dos grandes magos, apenas dificultava a manifestação de novos usuários da magia.
Mas a Magia não estava presa. Ela se manifesta constantemente, mesmo em não-magos. As fórmulas não precisam ser abandonadas, mas a verdadeira força da magia precisa ser reconhecida. Hoje em dia ela é temida, os mestres dificultam o acesso aos alunos e os não usuários temem os usuários. O conhecimento sobre a força que move o mundo, sobre as linhas que tecem a existência tornou-se o maior dos segredos da Magia. Se esse segredo será revelado, não é certo, mas existem alguns que se aproximam da verdade, quando usam apenas de sua força de vontade para realizar o impossível. Nao é possível conter a Magia, muito menos, a verdade...

Monstros nas sombras

Uma sombra se alastra pelo mundo, isso não é de agora, começou a muito tempo. Comecei falando em dualidades, mas talvez a situação não seja tão simples, ou então essa simplicidade seja a mais assustadora. Não, não é tudo preto e branco, os nuances de cinza podem ser mais terríveis, porque ao mesmo tempo em que nos dão esperança, podem nos derrubar.
Essa sombra tem o poder de transformar a alma dos mais fracos, esconder a verdade e lhes dar o poder de uma ilusão. E os fortes são poucos na atualidade. Funciona como um pacto sombrio, onde você para manifestar sua força interior você cede parte do controle para a escuridão e faz coisas que se você fosse capaz de se arrepender, resultaria em sua morte, por desgosto. Mas você está cego para isso, apenas deseja mais poder.
Assim, monstros começaram a surgir, seres amaldiçoados que vagam pela noite, fugindo da luz, aterrorizando populações. Vivem como parasitas, ceifando vidas para aumentar seu poder. Alguns, mais infelizes, chegam a se arrepender e fogem para longe, mas nunca mais voltam a ser o que eram. Além disso, esses monstros ainda desejam espalhar sua maldição, compartilhar seu sofrimento e dominar pobres mortais.
Mesmo assim, esses seres deformados não são os piores terrores que enfrentamos. Os piores monstros são aqueles que se encontram entre nós, ou até dentro de nós. Como disse, não é mais tão fácil enxergar o bem ou o mal, existem várias nuances e é provável que todos já tenhamos começado a cair. Claro que existe a chance de redenção, mas ela tão grande quanto a nossa capacidade para enfrentar os demônios reais que nos ameaçam a noite, invadindo nossos lares e se alimentando do sopro de vida que há em cada um nós...

29.8.04

Basti

Houve um deus dragão que se encantou com as novas espécies que surgiam, tão frágeis, mas tão cheias de vida. Um ser em especial chamou a sua atenção. A graça e a fúria, a leveza e a força, qualidades destoantes reunidas em apenas um animal, tornando-o único. Ele desejou conhecer melhor o que fazia aquele ser tão especial, assim cedeu seu poder, esgotando sua existência, de modo a realizar todo o potencial daquele frágil corpo. E ele o chamou de Bast.
Novas nuancem de cores, novos odores, novos sentimentos, uma nova compreensão daquilo a sua volta e medo, pois apesar de tudo ser igual, era tudo novo. Assim se sentiu Bast. E ele se sentiu só, pois sabia que algo havia mudado e que ele era único. Então um dragão o encontrou. veio e falou com ele, ele temia o dragão, pois sabia o que eles costumavam fazer. Apesar das palavras de compaixão, assim que sentiu seus músculos livres para se mover, ele fugiu para a selva. Ele já havia estado lá, mas agora ele era outra coisa, mas de certo modo ele se sentia melhor. Ao buscar pelo seu lar, quando encontrou seus iguais, finalmente entendeu que não era mais o mesmo.
Mas com isso também veio aceitação por si mesmo. Ele se isolou e passou a viver sozinho na selva, fugindo dos dragões que agora pareciam saber que ele existia e persegui-lo. Ele havia se tornado mais hábil do que antes, mais poderoso. Tinha uma nova compreensão do mundo, e isso lhe dava poder. Por muitos anos ele viveu assim, quando começou a arriscar visitas ao mundo dos dragões. Escondido, sem nunca o avistarem, ele aprendeu muito sobre o mundo, mas ao mesmo tempo viu como era viver entre iguais e sentiu falta disso. A tristeza se abateu sobre seu coração e ele resolveu desistir e partir.
Por quanto tempo ele vagou, nem para onde. Talvez ele procurasse um lugar para morrer, mas no fim ele encontrou outra coisa. Pois ele descobriu, no fim, que não era único, apenas o primeiro. Ao morrer, o poder que o criou não era controlável. Parte serviu para criar Bast, mas muito se dispersou pelo universo e algo ficou no mundo. Ele descobriu que outros como ele haviam nascido, mas estavam mais perdidos do que ele próprio. Mas ele sabia o que fazer, ele teria sua família.
Assim surgiu uma das raças mais nobres e sábias. Eles receberam grande parte do poder e isso se refletiu em sua cultura e sabedoria milenar, sendo que muitos deles seriam capazes de sobrepujar seu próprio criador. Mas o que poucos sabiam que ao mesmo tempo em que os Basti despertaram, outros seres também o fizeram...

27.8.04

Divididos

Apesar de separados, não estamos realmente sós. Dividimos o mundo com outros seres tão fortes e tão sábios quanto nós. Acho que isso já havia ficado meio óbvio. Na verdade o que era mais óbvio era o constante risco que vivemos por causa da existência de seres bem mais poderosos. Mas esses não se preocupam tanto com nossos problemas, enquanto com os outros nos relacionamos dia-a-dia.
Quem são eles? Primeiro é preciso evidenciar as diferenças entre nosso próprio povo. Os humanos não são uma raça muito unida. Diferenças no idioma, no modo de vida, na cor de pele, no corte de cabelo nos mantêm divididos. Hoje a distância impede grande parte das guerras, mas elas foram comuns no passado. As poucas vezes que alianças se formaram foi para enfrentar inimigos maiores. Cada povo habita hoje regiões diferentes do mundo e tem seu próprio modo de vida, mantendo contato principalmente por causa do comércio.
Mas nós realmente não somos os únicos. Em um mundo onde conseguimos realizar de maneira tão maravilhosa nosso potencial, bastando apenas força de vontade, não devemos esperar que outras espécies também não se tornariam grandiosas como nós. Sim, aparentemente várias espécies de animais atingiram um certo grau de evolução que os tornam capaz de se igualar a nós, ou será que nós é que nos igualamos a eles? Existem vestígios, ou melhor, provas de que certas raças possuem culturas mais antigas que a nossa.
Isso não nos faz necessariamente inimigos, mas torna mais forte o sentimento xenofóbico. E nos dias que vivemos, o distanciamento torna mais difícil ainda aceitar essas raças como irmãos ou primos, sequer. Recebê-los como visitantes também é complicado e o mundo começa a se tornar pequeno. Cada raça busca viver em suas próprias terras, para as quais são naturalmente adaptados. Mas os homens não possuem limites para sua adaptação, suspeito inclusive que um dia poderemos viver até debaixo da água.
Respeitamos os limites, ainda. Mas a disputa por espaço fica cada vez mais complicada. A falta de comunicação não ajuda. A separação prejudica nossas defesas e a sombra que surge no norte pode não ser uma ameaça maior do que a sombra que nos impede de ver que vivemos todos no mesmos mundo e precisamos trabalhar juntos para mantê-los a salvo da destruição. Não deveríamos ser a causa de nossa própria destruição, mas esse parece ser o caminho para o qual andamos...

26.8.04

Acredite

Também fomos tocados pela força que move o universo. O que nos torna diferente dos deuses? O que nos aproxima deles? A insignificância de nossas vidas pode ser a resposta, somos um grão de areia. Mas mesmo o mais insignificante pode provocar mudanças que a atingem a todos, quando vive sua vida com paixão. Essa lição é a história que nos dá.
Mas por que são tão raras essas manifestações? Porque estamos presos em nossas próprias mentes. Criamos correntes que impedem nosso crescimento, o mesmo que enfraqueceu nossos irmãos do outro lado, nos ameaça agora. Nem sempre fomos assim, apenas esquecemos de nossa força. É preciso reencontrá-la.
São vários os caminhos para se manifestar o dom. Primeiro é preciso entender que somos um com o universo e assim como nos adaptamos para nele viver, podemos moldá-lo de acordo com nossa vontade. Assim a humanidade aprendeu a Magia e hoje existem fórmulas para isso. Mas a verdadeira Magia está em nossos corações, apenas com força de vontade ou fé podemos a atingir e tornarmos espíritos livres.


25.8.04

Através dos tempos

Vivemos na Era do Silêncio. O silêncio que antecede o trovão, pois uma tempestade se aproxima. Mas apesar da tempestade, não se sabe o que está porvir. O silêncio também representa a oração de esperança por tempos melhores. Uma época como as que foram vividas no passado, quando havia paz, felicidade e confiança um nos outros. Talvez nunca tenham existido histórias felizes, mas é uma ilusão que precisamos alimentar.
A primeira das eras foi a Era Antes das Eras, quando tudo era uma só coisa e a consciência universal era manifesta. Foi uma eternidade de paz e o ciclo da vida sugere que um dia devemos voltar a ela, mas talvez seja necessária outra eternidade até esse momento.
Então surgiram os planetas e os seres vivos. E aqui começou a Era dos Dragões, que criaram uma sociedade magnífica e gloriosa, mas que também teve seu fim. O que levou a ruptura não se sabe, mas novos deuses e novos povos passaram a controlar e os dragões desapareceram aos poucos, mas seu rancor ainda alimenta lendas sombrias do retorno a um mundo corrompido onde eles seriam os únicos deuses.
Naqueles tempos, os planos eram mais conectados. Os deuses e os povos que surgiram reinaram em paz dos dois lados. Foi a época em que as diferenças começaram a surgir e também a época em que elas foram esquecidas. Foi a época em que os homens reconheciam o poder da fé e da magia, a época em que as pessoas atravessavam mais livremente e que se ampliou em muito as populações dos dois lados. Mas algo ocorreu que mudou tudo, uma nova forma de ver o mundo desacreditou os deuses. Não sei explicar, pois todos os relatos foram esquecidos, assim como o nome daquela era, que o hoje é chamada da Era do Reino dos Deuses Esquecidos, quando os portais se fecharam.
Então os seres do mundo de antimatéria despertaram para o fato de que estavam sozinhos, mas apesar disso eram capazes de realizar grandes obras. Eles tinham um mundo a desvendar e mistérios a revelar. Nessa era os segredos das forças que moviam o universo passaram a ser conhecidos por todos, a magia e a fé motivaram o surgimento de sociedades que um dia foram gloriosas, mas agora glorificavam apenas os poderes que lhe serviam de origem. Foi a Era do Despertar, do despertar dos mortais para a imortalidade.
O que nos levou a Era Dourada. Maravilhados com o seu potencial, todas as raças e povos pareciam unidos no objetivo de criar uma sociedade perfeita. Foram os anos mais gloriosos para todos os povos, ao contrário do que ocorria no mundo irmão, que vivia uma era de trevas. Nessa Era foram criados os mais grandiosos monumentos e cidades, até hoje existem resquícios dessa grandiosidade. E vários poderes surgiram para manter tudo em ordem.
Mesmo assim, tudo acabou. Uma invasão inesperada e uma guerra dura que separou irmãos e amigos. Como resultado, muitas pessoas morreram e, além disso, deuses caíram. Foi o prenúncio dessa era, o luto dos deuses. No fim, o mal que veio do norte foi contido. A um preço muito alto, é verdade, mas deu tempo para os povos que um dia foram amigos se recuperarem. Mas o silêncio impede o retorno das alianças que serão necessárias, pois tudo indica que um novo mal está para se levantar com o trovejar da tempestade. O silêncio está para terminar.

24.8.04

Travessia...

Você talvez não acredite nessas histórias, de que existam universos gêmeos separados por uma barreira invisível. Isso é aceitável, eu mesmo não acreditava até ter atravessado tal barreira e foi um processo muito doloroso para se esquecer ou para fingir que não aconteceu.
Quando os limites entre as dimensões eram frágeis e as duas eram muito parecidas entre si, seus moradores podiam atravessar livremente com um pouco de força de vontade. Isso explicaria os relatos de deuses e monstros vagando por um planeta que atualmente não acredita em nada. Mas com a distância muitas mudanças ocorreram e cada dimensão passou a ser composta por partículas antagônicas, matéria e antimatéria.
Os dois materiais não podem co-existir. Isso impediu a passagem por livre iniciativa, mas não rompeu os laços entre os planos. Assim, ocorre de um lado ou outro puxar ou empurrar partes de seu irmão para si. Tal processo é altamente destrutivo para os materiais inanimados, mas os seres vivos têm uma vantagem, que ao mesmo tempo é sua maldição. A essência divina que concede a vida transforma o viajante, destruindo e reconstruindo o seu corpo para que ele se adapte ao novo plano de existência.
E porque alguém iria querer atravessar, então? Ninguém quer atravessar, ninguém sequer sabe que existe algo para se atravessar. Isso simplesmente acontece, aparentemente sem um motivo claro. Existem lendas que garantem haver uma grande importância para o fato dessas coisas ainda acontecerem. O que dizem essas lendas desconheço, mas estão ligadas ao destino de tudo. Talvez represente o fato de que as barreiras não são naturais e que um dia romperão. Mas uma nova união pode não ser a redenção, pois temo que os monstros que habitam ambos os mundos tornem-se ainda mais destrutivos se confrontados do que o são separados. E talvez força nenhuma dos dois lados seja capaz de contê-los, então.

Sonhos pré-históricos

Os primeiros a vagarem por esse mundo foram deuses e demônios, chegará o momento em que discutiremos sobre eles. Mas quando falamos em habitantes legítimos, como você e eu, os mais antigos são as bestas ancestrais que dominaram terra, mar e céu durante milênios, mas hoje se encontram dormindo um sono de terror.
Com seus corpos de répteis gigantes com asas e sua mística inteligência assombram e resplandecem aqueles que os vêem. São conhecidos por dragões, mas são muito mais do que meras feras. Sim, eles dominaram nosso mundo e há quem diga que um dia eles voltarão a dominar. Seres de pura magia, viveram em uma sociedade perfeita, mas não souberam adaptar-se as mudanças que vieram com os novos habitantes de suas terras.
Tornaram-se deuses vivos, deuses destruidores e criadores, nem bons, nem maus, mas suas diversas facetas, principalmente as terríveis, foram gravadas no fundo da alma de todo ser vivo e ainda hoje tornam os pesadelos dos mortais em algo substancialmente real. Mas a mudança dos tempos fez com que esses grandes seres minguassem, permitindo que outras raças dominassem. Mas eles nunca foram dominados, buscaram refúgios secretos onde poderiam sonhar com glórias do passado, pois suas lembranças são como a rocha mais sólida que nunca se desgasta.
Onde seriam esses refúgios ninguém sabe. Dizem que é possível encontrá-los quando tudo se transforma a sua volta, pois suas mentes poderosas transformam sonhos em realidade e nossos pesadelos em morte. Mas é melhor que eles continuem dormindo, pois apesar de saberem que seu sonho é uma mentira, eles cansaram de lidar com os insignificantes mortais. E o despetar desse sono, despertaria também uma fúria incontrolável. Mas quem desejaria ter essa fúria contra si? Existem aqueles que a desejam sobre todos nós...

23.8.04

Origens

Quando tudo surgiu e o primeiro ser tomou consciência de sua existência ele adotou a forma daquilo que o envolvia, mas o espaço era infinito e o tempo interminável. A medida em que ele alcançou a tudo, ele se partiu e se uniu àquilo que existia.
Assim as estrelas, os mundos e a vida surgiram. Cada parte com seu próprio objetivo, mas ao mesmo tempo unidos pelo mesmo destino, tudo em ressonância. Mas aos poucos novas vozes puderam ser ouvidas e algumas começaram a destoar, assim a separação tornou-se inevitável, pois a busca por independência surgiu.
Os planetas começaram a se distanciar e nada mais pode ser afirmado sobre o que acontece no longínquo céu de estrelas. Mas aqueles que estavam perto também se afastaram. Abismos e muralhas surgiram, apesar de alguns tentarem se manter unidos. Assim foi no início dos tempos e em todos os lugares, a despeito da agonia do primeiro.
Em nosso mundo, antes dele se transformar em dois, seus primeiros habitantes dividiram-se entre aqueles que sofriam a dor do universo e aqueles que a ignoravam e buscavam aplacar seu próprio sofrimento. E isso que originou a barreira que separa os dois planos de existência. Com o passar das eras, mais difícil ficava transpor esses limites e o preço a se pagar para realizar tal façanha pode ser considerado muito alto, mas para muitos é a única esperança.

22.8.04

Seriam os deuses conceitos?

Conceitos, esses são os alicerces da cultura e da sociedade. Mas foi principalmente o duelo entre conceitos que permitiu nosso crescimento. Refiro-me, por exemplo, ao duelo entre bem e mal, amor e ódio, conhecimento e ignorância... Esses conceitos não são tão diferentes entre si, estão unidos e a existência dos mesmos só é completa quando juntos, são as duas faces da moeda.
Desde a origem do universo, sempre foi assim. Isso nos faz pensar se existe mesmo só um universo. A resposta é não. Apenas não sei quantos universos existem, mas eu já estive em dois, aquele onde eu nasci, onde a ciência e a racionalidade humana prevaleceram e permitiram o desenvolvimento da sociedade e aquele forjado pela magia e sabedoria espiritual, onde as leis da física se rendem à força da imaginação. Universos que não podem coexistir no mesmo momento ou local, mas que ao mesmo tempo estão interligados de tal maneira que um não sobreviveria sem o outro, matéria e antimatéria como um dia escutei falando um homem em devaneios que atravessou na minha frente.
Nossa origem está nesse conflito eterno, mas enquanto em um lado os conceitos não passam de idéia cujos limites são indefinidos, aqui os conceitos assumem formas divinas e influência o destino de todos os seres vivos por meios diversos. Mas isso não é o pior. O pior está em saber que o conflito não está mais apenas dentro de nossas mentes, aqui o choques não são entre idéias, mas entre deuses. Por isso reze por proteção...

20.8.04

Do outro lado...

Para mim sempre foram apenas histórias de terror... nunca pensei que um dia viveria uma delas. Mas agora que estou aqui, percebo que não é tão assustador e que existe vida e também felicidade...
Eles são pessoas como a gente e uma vez eles viveram entre nós, ou seríamos nós que teríamos vivido entre eles. Mas a verdade é que mesmo eles tendo sido privados da constante evolução da civilização como eu a conhecia, eles receberam bençãos ainda maiores.
Mas há algo no ar. Sim, uma parte das histórias de terror eram verdadeiras. Pode ser que a felicidade não dure para sempre. Mas ainda há esperanças, talvez seja por isso que alguns de nós ainda hoje possam atravessar para esse lado.